CRMV/SC 4257

Thiago Ferreira

Veterinário Oftalmologista

VOLTAR

Braquicefálicos: perigos na própria anatomia

É cada vez mais comum nos lares brasileiros a presença de cães de raças braquicefálicas, ou seja, de focinho curto ou achatado, pelo caráter carinhoso e divertido que a maioria dos animais dessas raças possui, além de claro, aquele olhar fixo, expressivo e apaixonante que seus tutores conhecem como ninguém. São eles: Shih-tzu, Lhasa Apso, Pug, Buldogues, Pequinês, Boxer e outros. Porém esse olhar esconde um perigo, ou vários, dos quais iremos discorrer aqui.

Alguns trabalhos científicos descobriram que os cães braquicefálicos possuem quantidades de terminações nervosas em um número relativamente menor em suas córneas que outras raças não braquicefálicas. Isso implica em dizer que o quê dói muito para um cão meso ou dolicocefálico, não dói tanto para um braquicefálico. Em linguagem mais simples, nossos amigos de focinho chato correm com os olhos abertos indepentende do obstáculo que está pela frente, o que pode causar um acidente com dano de leve a grave para o olho do animal, resultando em úlcera de córnea, afecção que muitas vezes resulta em perfuração do olho afetado.

Mas o que é a tal da córnea que citamos ali em cima? Importante sabermos até para identificar de modo precoce algumas situações. A córnea é uma lente que está disposta na parte mais frontal do olho, ou seja, mais para frente, feita principalmente por fibras de colágeno extremamente organizadas. Ela é transparente, o que nos permite enxergar a íris (colorido do olho) e a pupila (parte preta) que estão localizadas no interior do olho. Nas fotos abaixo vemos o brilho da córnea de frente e em um desenho esquemático de um olho cortado de lado.

Ok! E como a doença na córnea se caracteriza? Muita dor! O animal afetado fecha o olho com força, fica sensível à luz, com uma opacidade não vista antes do ocorrido e que varia de tamanho.

Além do risco de trauma que pode ocorrer devido a exposição e pouca sensibilidade do olhos desses animais, um defeito anatômico presente em menor ou maior grau os acompanha, a prega nasal, essa destacada em vermelho na foto abaixo.

As pregas nasais causam inversão do canto das pálpebras localizadas próximo ao focinho. Como resultado há atrito dos pêlos daquela região na superfície do olho no canto nasal. Em animais de pêlos longos existe um certo incômodo, muito maior nos animais de pêlo curto principalmente pela espessura atritar de modo maior a superfície ocular. Muitas vezes os pêlos da própria prega pode atritar os olhos. Não é à toa que secreções oculares são extremamente comuns nesses animais, chegando ao ponto de muitos criadores considerarem isso como “normal para a raça”.

Vale lembrar que em muitos casos há a necessidade de procedimento cirúrgico para corrigir a imperfeição, que a longo prazo pode levar à cegueira do paciente.

Por falar em secreções oculares, essas não podem ser atreladas somente à inversão das pálpebras, elas também podem estar relacionadas a conjuntivites, principalmente alérgicas, doença do olho seco e suas modalidades, entre outras. Cada uma dessas doenças devem ser descartadas por exames específicos para tais fins.

Não podemos esquecer de um tipo de lesão característica principalmente em Pugs, a ceratopatia pigmentar, uma capa de cor preta que invade a superfície do olho. Essa lesão pode ser causada pelos pêlos da prega nasal e/ou das pálpebra, pela doença do olho seco ou pela combinação de todas as situações.

Todos os defeitos anatômicos citados podem cursar com incômodo intenso e é frequente que o próprio paciente coce o olho a ponto de causar úlcera de córnea ou outros danos consideráveis ao próprio olho. Portanto, em todos os animais dessas raças, independente da idade, o exame oftálmico criterioso é importante para identificar e corrigir o problema de maneira precoce.

Thiago Ferreira – Todos os direitos reservados – 2020 – Desenvolvido por: