Um dos desafios mais intrigantes da Medicina Veterinária é conduzir com êxito o quadro de cegueira causado por uma das enfermidades oculares mais comuns nos cães idosos, a catarata. Mas se engana quem acha que apenas cães idosos sofrem deste mal. Cães jovens ou mesmo filhotes também podem ser acometidos. Em felinos é extremamente incomum observar a catarata.
A catarata é uma doença que acomete uma estrutura dentro do olho chamada lente. A lente é formada por proteínas chamadas cristalinas que se dispõem em uma arquitetura perfeita permitindo a passagem da luz, ou seja, é transparente. Quando algum fator interno (inflamações ou doenças endócrinas) ou externo (radiação ultravioleta) ao corpo atinge a lente, as cristalinas sofrem uma alteração na sua disposição, não permitindo a passagem da luz como antes. O resultado é a opacidade da lente antes transparente, que caracteriza-se pela aparecimento de uma coloração branca onde antes se localizava uma coloração preta (pupila). Essa coloração branca pode variar na sua intensidade. Vale lembrar que a pupila não é uma estrutura mas sim um espaço que permite a passagem de luz, que assume a cor preta por estar escuro no fundo do olho.
A cirurgia mais eficaz e com melhores resultados para os olhos dos animais é a facoemulcificação, procedimento no qual a lente é quebrada em pequenos fragmentos por meio de movimentos ultrassônicos de uma ponteira localizada na caneta do equipamento e sugada para fora do olho.
Após a avaliação inicial se requisitam dois exames que ajudam a constatar se o paciente pode ou não passar por cirurgia, uma vez que certos casos torna-se impossível a avaliação do fundo do olho por conta da catarata. Um é o ultrassom oftálmico que auxilia na localização de anormalidades na posição da lente e em áreas de descolamento de retina. Outro é a eletrorretinografia, exame que necessita de anestesia geral do paciente e que serve para diagnosticar anormalidades na atividade retiniana. Todos esses exames nos auxiliam a não encaminhar para a cirurgia pacientes que têm pouca ou nenhuma chance de voltar a enxergar, a menos que a catarata esteja causando inflamação intra-ocular (uveíte) persistente.
Outro cuidado que devemos ter em mente é a fase em que se encontra a catarata. Existem várias classificações para a catarata mas a mais simples a divide em quatro fases: incipiente, imatura, madura e hipermatura. A partir da terceira fase já existe perda total da visão. Quanto mais envelhecida for a catarata mais dura ela é e mais demorada será a cirurgia, aumentando o risco de complicações. Sendo assim, quanto mais cedo o paciente passar por cirurgia maiores serão suas chances.
Após a cirurgia é implantada uma lente intra-ocular artificial que melhora consideravelmente a visão no pós-operatório, como observado na foto abaixo. A lente se encontra em uma posição centralizada.
Os tutores do animal precisam se dedicar integralmente ao pós-operatórios nos primeiros dias para aumentar mais as chances de sucesso. Vale ressaltar que existem situações em que é preciso a aplicação de colírios de hora em hora inclusive de madrugada, sendo recomendável que mais de uma pessoa cuide do pós-operatório, principalmente nesses primeiros dias.
Por fim, qualquer opacidade vista nos olhos de seu animal deve ser avaliada por um Veterinário Oftalmologista a fim de corrigir o problema e devolver a qualidade de vida do paciente.