CRMV/SC 4257

Thiago Ferreira

Veterinário Oftalmologista

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Catarata

Um dos desafios mais intrigantes da Medicina Veterinária é conduzir com êxito o quadro de cegueira causado por uma das enfermidades oculares mais comuns nos cães idosos, a catarata. Mas se engana quem acha que apenas cães idosos sofrem deste mal. Cães jovens ou mesmo filhotes também podem ser acometidos. Em felinos é extremamente incomum observar a catarata.

A catarata é uma doença que acomete uma estrutura dentro do olho chamada lente. A lente é formada por proteínas chamadas cristalinas que se dispõem em uma arquitetura perfeita permitindo a passagem da luz, ou seja, é transparente. Quando algum fator interno (inflamações ou doenças endócrinas) ou externo (radiação ultravioleta) ao corpo atinge a lente, as cristalinas sofrem uma alteração na sua disposição,  não permitindo a passagem da luz como antes. O resultado é a opacidade da lente antes transparente, que caracteriza-se pela aparecimento de uma coloração branca onde antes se localizava uma coloração preta (pupila). Essa coloração branca pode variar na sua intensidade. Vale lembrar que a pupila não é uma estrutura mas sim um espaço que permite a passagem de luz, que assume a cor preta por estar escuro no fundo do olho.

A única maneira de reverter a catarata é com uma intervenção cirúrgica. Não existem fórmulas milagrosas para corrigir este defeito. Podemos comparar a desestruturação da proteínas da lente com um ovo cozido. Antes de cozinhar o ovo a clara é transparente e após o tratamento térmico ela se torna branca. Isso ocorre devido a desnaturação das proteínas da clara e o mesmo acontece com a lente, obviamente por outras causas. Do mesmo modo que é atualmente impossível “descozinhar” o ovo, não é possível reverter a catarata. Por isso ela deve ser removida de dentro do olho e substituída por uma lente artificial.

A cirurgia mais eficaz e com melhores resultados para os olhos dos animais é a facoemulcificação, procedimento no qual a lente é quebrada em pequenos fragmentos por meio de movimentos ultrassônicos de uma ponteira localizada na caneta do equipamento e sugada para fora do olho.

Mas isso não significa que a cirurgia seja cem por cento segura. Vale ressaltar que os olhos de alguns animais, principalmente os cães reagem de pior à manipulação interna dos olhos que em humanos por exemplo. Esta reação ruim à cirurgia pode gerar grave inflamação dentro do olho operado, culminando desde insucesso cirúrgico com persistênscia da cegueira até glaucoma (aumento de pressão dentro do olho). Mas não se assuste, essas complicações ocorrem apenas em uma pequena parte dos cães operados e geralmente naqueles com cataratas extremamente evoluídas e duras. Portanto uma avaliação e seleção criteriosa dos pacientes deve ser realizada visando selecionar os olhos que possuem boa chance de sucesso cirúrgico.

Após a avaliação inicial se requisitam dois exames que ajudam a constatar se o paciente pode ou não passar por cirurgia, uma vez que certos casos torna-se impossível a avaliação do fundo do olho por conta da catarata. Um é o ultrassom oftálmico que auxilia na localização de anormalidades na posição da lente e em áreas de descolamento de retina. Outro é a eletrorretinografia, exame que necessita de anestesia geral do paciente e que serve para diagnosticar anormalidades na atividade retiniana. Todos esses exames nos auxiliam a não encaminhar para a cirurgia pacientes que têm pouca ou nenhuma chance de voltar a enxergar, a menos que a catarata esteja causando inflamação intra-ocular (uveíte) persistente.

Outro cuidado que devemos ter em mente é a fase em que se encontra a catarata. Existem várias classificações para a catarata mas a mais simples a divide em quatro fases: incipiente, imatura, madura e hipermatura. A partir da terceira fase já existe perda total da visão. Quanto mais envelhecida for a catarata mais dura ela é e mais demorada será a cirurgia, aumentando o risco de complicações. Sendo assim, quanto mais cedo o paciente passar por cirurgia maiores serão suas chances.

Após a cirurgia é implantada uma lente intra-ocular artificial que melhora consideravelmente a visão no pós-operatório, como observado na foto abaixo. A lente se encontra em uma posição centralizada.

Os tutores do animal precisam se dedicar integralmente ao pós-operatórios nos primeiros dias para aumentar mais as chances de sucesso. Vale ressaltar que existem situações em que é preciso a aplicação de colírios de hora em hora inclusive de madrugada, sendo recomendável que mais de uma pessoa cuide do pós-operatório, principalmente nesses primeiros dias.

Por fim,  qualquer opacidade vista nos olhos de seu animal deve ser avaliada por um Veterinário Oftalmologista a fim de corrigir o problema e devolver a qualidade de vida do paciente.

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